Hiperatividade :escola X familia
A escola se queixa: "Esse menino não pára!"; "Parece que ele está sempre com a cabeça no mundo da lua!"; "Ele não consegue acompanhar porque não presta atenção no que faz!"; "Esse menino precisa de limites!". Quando os pais ouvem esses comentários dos professores, uma pergunta muito séria ronda sua cabeça: até que ponto a "energia" ou a "distração" do filho são normais ou são sinais de que há algo realmente errado acontecendo?Responder a essa pergunta não é nada fácil. Afinal, que criança não é, em certa medida, desatenta, agitada ou impulsiva? Pode-se desconfiar de que há algo de errado quando todas essas características estão presentes na criança de maneira exagerada.
*Graduada em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná, foi coordenadora do Setor de Psicologia da Vara da Infância e da Juventude de Curitiba.Atualmente, realiza trabalho clínico com adolescentes e adultos e presta assessoria para projetos sociais voltados a jovens e suas famílias
O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (denominação correta da conhecida hiperatividade) é um quadro que ocorre antes dos 7 anos de idade e, segundo algumas estimativas norte-americanas, atinge cerca de 3% a 5% das crianças, sendo muito mais freqüente em meninos do que em meninas. A criança com déficit de atenção e hiperatividade apresenta problemas em quatro áreas: atenção, controle de impulsos, atividade motora e baixo limiar para a frustração. A seguir, vamos descrever brevemente as principais características desse quadro, mas é importante lembrar que os problemas causados pelo déficit de atenção e hiperatividade podem variar em gravidade de acordo com a criança e a forma como os pais e a escola lidam com o problema.Em relação à atenção, a criança apresenta dificuldade em se concentrar nas tarefas que deve realizar e costuma distrair-se com facilidade. Essa dificuldade, no entanto, não significa que ela seja "incapaz" de se concentrar. Em determinadas circunstâncias, pode até fixar sua atenção em uma história que está sendo contada por um adulto ou em algum programa de TV.
Na sala de aula, por exemplo, a criança pode inicialmente entender o que deve fazer e começar a tarefa, mas a movimentação do colega ao lado ou um barulho do lado de fora podem fazê-la "perder o fio da meada", diferentemente do que acontece com outras crianças, que conseguem permanecer atentas ao que estão fazendo.Controlar impulsos é uma tarefa difícil para todos nós: quem, por exemplo, já não teve vontade de "pular no pescoço" de alguém que fala algo desagradável? O problema com a criança hiperativa é que ela tem muita dificuldade de se controlar em situações que exigem planejamento, reflexão sobre conseqüências futuras ou seguimento de regras. Por exemplo, ao jogar bolinha de gude com outras crianças, ela pode não conseguir esperar a sua vez e "atropelar" os colegas. Ao resolver um problema de matemática, pode não conseguir planejar todos os passos que deve seguir e começar de qualquer forma. Mas, de novo, é importante lembrar: isso não significa que a criança nunca vai conseguir fazer um planejamento ou se controlar diante de dificuldades.
O excesso de atividade motora é o sinal mais característico e conhecido do quadro: a criança tem dificuldades em se manter sentada por muito tempo e, em geral, movimenta-se muito e o tempo todo. Esse exagero pode ocorrer também em relação às emoções, já que muitas crianças com déficit de atenção e hiperatividade costumam ter reações emocionais muito intensas, sejam elas de raiva, alegria ou frustração. Em geral, é o excesso de atividade motora que leva os professores a fazer reclamações quanto aos limites que são dados às crianças.E, por fim, a dificuldade em lidar com a frustração faz com que a criança desista muito facilmente de seus objetivos. Em outras palavras, diante de dificuldades para alcançar algo que deseja ou para terminar uma tarefa (por exemplo, um exercício no caderno), a criança acaba não indo até o fim, ainda que os pais ou os professores insistam para que ela tente mais uma vez.
É muito importante identificar corretamente se a criança realmente tem o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) para que ela receba atendimento adequado o mais rápido possível. Em geral, quando a criança apresenta o quadro e não é diagnosticada (e, por conseqüência, não recebe o atendimento adequado), as suas relações com a família, escola e amigos vão ficando cada vez piores: ela é muito criticada por todos, não consegue se sair bem na escola e os colegas tendem a se afastar.
O resultado? Um grande sentimento de incapacidade, dúvida sobre o amor das outras pessoas e uma auto-imagem muito ruim ("eu não sei fazer nada direito mesmo").
A criança com TDAH não é distraída ou agitada porque quer.
Ela se comporta dessa forma porque não consegue ser diferente! Por isso, se você desconfia de que a conduta do seu filho (ou seu aluno) pode ser um sinal de que ele tenha o TDAH, procure um neuropediatra ou um psiquiatra infantil (ou então sugira que os pais da criança façam isso). Esses profissionais poderão fazer o diagnóstico adequado e receitar medicamentos, se for necessário. O trabalho de um psicólogo será necessário para ajudar a criança a lidar com suas dificuldades e com as pessoas com quem convive.
Algumas dicas para lidar com a criança com TDAH:
A criança precisa de estruturação.
A criança precisa de estruturação.
Um ambiente organizado ajudará na organização interna da criança.
Nunca dê mais que uma instrução ao mesmo tempo.
Nunca dê mais que uma instrução ao mesmo tempo.
A criança certamente se esquecerá de alguma coisa.
Ao falar com a criança, olhe sempre nos olhos dela.
Ao falar com a criança, olhe sempre nos olhos dela.
Isso a ajudará a manter a atenção no que você está dizendo.
Repita sempre as instruções, pois a criança precisa disso.
Na escola, o professor deve procurar dar tarefas curtas para a criança.
Repita sempre as instruções, pois a criança precisa disso.
Na escola, o professor deve procurar dar tarefas curtas para a criança.
Se a for longa, é importante tentar dividi-la em tarefas menores para que a criança não tenha a sensação de que é longa demais e que nunca vai terminar tudo aquilo.
Sempre valorize as coisas boas que a criança faz e as tarefas que consegue cumprir: ela provavelmente está cansada de saber de suas limitações, mas poucas vezes tem a oportunidade de ouvir sobre suas conquistas.
Sempre valorize as coisas boas que a criança faz e as tarefas que consegue cumprir: ela provavelmente está cansada de saber de suas limitações, mas poucas vezes tem a oportunidade de ouvir sobre suas conquistas.
*Graduada em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná, foi coordenadora do Setor de Psicologia da Vara da Infância e da Juventude de Curitiba.Atualmente, realiza trabalho clínico com adolescentes e adultos e presta assessoria para projetos sociais voltados a jovens e suas famílias