2.3. ESCRITA E CURRÍCULO OCULTO:

Para a maior parte dos professores, é sempre muito difícil explicar as diferenças individuais que determinam o sucesso ou fracasso da alfabetização.
De acordo com COLELLO (1995, p.55), na tentativa de repensar as práticas pedagógicas da alfabetização, Rego (1985) chama a atenção para o "currículo oculto" de certas crianças que, em seus ambientes familiares, tiveram oportunidades de exploração ativa da língua escrita. Essa preparação, ainda que informal e distinta das tarefas típicas da escola, garante a descoberta da linguagem escrita, favorecendo o sucesso escolar. É bem verdade que a informação implícita nos atos de leitura e escrita cotidianos não garantem a sua conquista numa relação direta de causa e conseqüência. Em outras palavras, segundo a autora, não é o contato com as letras que alfabetiza, mas a compreensão a respeito das diferentes modalidades da escrita, de seus diversos suportes materiais, das suas funções e características é que faz com que a criança ingresse no "mundo do letramento", antes mesmo de conhecer as letras ou funcionamento da escrita. Assim podemos afirmar com Goodman,
que os princípios funcionais crescem e se desenvolvem à medida que a criança usa a escrita e vê a escrita que outros usam na vida diária e observa os significados dos eventos de "lectescrita" dos quais participa (Ferreiro e Palácio, 1987) citado por COLELLO (1995, p.55).
Para a grande maioria dos autores, esse conhecimento, construído na prática, possibilita o emprego de uma série de estratégias na tentativa de produzir ou interpretar um texto. A partir das antecipações feitas sobre o que está escrito e como se pode ler, a criança tem a oportunidade de buscar, no texto, a confirmação de suas hipóteses iniciais.
Com efeito, a garantia do significado na aprendizagem parece ser o fator decisivo para o êxito escolar de certas crianças. Ao perceber o potencial comunicativo das palavras traçadas no papel, elas têm maiores possibilidades de se apropriar das situações vividas dentro da sala de aula.
Segundo COLELLO (1995, p.26), para Rego (1985), os hábitos de leitura dos próprios de familiares de classe média são preditivos no sucesso da leitura, porque antes mesmos de seu ingresso na sala de aula, a criança já aprendeu a arte de extrair significado do material escrito.
Práticas, tais como ler, ouvir ou escrever histórias infantis, cartas, favorecem a descoberta das funções da língua escrita, bem como o livre trânsito entre diferentes estilos de linguagem.
Embora do ponto de vista teórico seja difícil separar completamente a fala da escrita, a criança exposta a esses dois tipos de discurso percebe a diferença entre eles e tenta lidar com as suas peculiaridades, num longo processo que certamente tem inicio na idade pré-escolar.
Criar oportunidades para a familiarização com a escrita e reconhecimento de suas funções no meio em que vivemos são deveres fundamentais de todo educador, nessa perspectiva.

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