ALFABETIZAÇÃO:

São muitas as dificuldades das crianças no início do processo de aprendizagem da língua escrita, ainda que apresente um perfil normal de desenvolvimento. Segundo FERREIRO E TEBEROSKY (1986), a escrita não reflete uma exata correspondência com a fala. Ela representa por meio de letras, fonemas, mas nem sempre um fonema corresponde a uma letra; muitas vezes a palavra escrita tem mais letras do que os sons que pronunciamos (grafemas). Raramente usamos os fonemas isoladamente, sendo que, de início, a unidade mais facilmente aprendida pela criança é a sílaba, um dos motivos pelos quais, aliás, a criança antes de chegar à fase alfabética se utiliza da representação silábica. Conforme FERREIRO E TEBEROSKY (1986), a divisão em sílabas se dá praticamente em todas as culturas.
Segundo essas autoras, conforme uma perspectiva pedagógica, o problema da aprendizagem da leitura e da escrita tem sido exposto como uma questão de método. A preocupação dos educadores tem-se voltado para a busca do "melhor" ou "mais eficaz", levantando, assim, uma polêmica em torno de dois tipos fundamentais: métodos sintéticos, que partem de elementos menores que a palavra, e métodos analíticos, que partem da palavra ou de unidades maiores.
O método sintético consiste, fundamentalmente, na correspondência entre o oral e escrito, entre o som e a grafia. Outro ponto chave para esse método é estabelecer a correspondência a partir dos elementos mínimos, num processo que consiste em ir das partes ao todo. Os elementos mínimos da escrita são as letras. Durante muito tempo se ensinou a pronunciar as letras, estabelecendo-se as regras de sonorização da escrita. Os métodos alfabéticos mais tradicionais abonam tal postura (FERREIRO E TEBEROSKY, 1986).
Sob a influência da lingüística, desenvolve-se o método fonético, propondo que se parta do oral. A unidade mínima de som da fala é o fonema.
O processo, então, consiste em iniciar pelo fonema, associando-o a sua representação gráfica. É preciso que o sujeito seja capaz de isolar e reconhecer os diferentes fonemas, para poder, a seguir, relacioná-los aos sinais gráficos (FERREIRO E TEBEROSKY, 1986).
Como a ênfase está posta na análise auditiva para se separar os sons e estabelecer as correspondências grafema-fonema (isto é, letra-som), estabelecem-se duas questões como prévias:
· que a pronúncia seja correta para evitar confusões entre os fonemas e
que as grafias de formas semelhantes sejam apresentadas separadamente para evitar confusões visuais entre as grafias.
Outro dos importantes princípios para o método é ensinar um par fonema – grafema por vez, sem passar ao seguinte enquanto a associação não esteja bem fixada. Na aprendizagem, está em primeiro lugar a mecânica da leitura que, posteriormente, dará lugar à leitura inteligente (compreensão do texto lido), culminando com uma leitura expressiva, onde se junta a entonação.
Segundo FERREIRO e TEBEROSKY (1986, p.19) a aprendizagem da leitura e da escrita é uma questão mecânica; trata-se de adquirir a técnica para o decifrado do texto. Porque se concebe a escrita como transcrição gráfica da linguagem oral, ler equivale a decodificar o escrito em som.
Nessa perspectiva, é evidente que o método será tanto mais eficaz quanto mais o sistema da escrita estiver de acordo com os princípios alfabéticos. Isto é, quanto mais perfeita seja a correspondência som-letra. Em nenhum sistema de escrita existe uma total coincidência entre a fala e a ortografia; segundo COLELLO (1995) recomenda-se começar com aqueles casos da ortografia regular, palavras onde a grafia coincida com a pronúncia.
As cartilhas ou os livros de iniciação à leitura nada mais são do que a tentativa de conjugar todos esses princípios: evitar confusões auditivas e/ou visuais; apresentar um fonema (e seu grafema correspondente) por vez; e finalmente trabalhar com os casos de ortografia regular. A sílabas sem sentido são utilizadas regularmente, o que acarreta a conseqüência inevitável de dissociar som da significação e, portanto, dissociar a leitura da fala.
O processo de aprendizagem da leitura é visto, simplesmente, como uma associação entre respostas sonoras e estímulos gráficos (FERREIRO e TEBEROSKY,1986, p.20).