Problemas como dislexia, disgrafia, déficit de atenção são comuns e começam a aparecer na alfabetização


22/01/2008 - O Estado de S. PauloObserve o rendimento do seu filho O Estado de S. Paulo -Renata Gama Quando a criança apresenta desempenho abaixo da média na escola, falta de vontade de ir para a aula, auto-estima baixa e até sintomas físicos, como dores de cabeça, de barriga ou mesmo vômito e febre, os pais devem ficar atentos. Estes podem ser sinais de transtorno de aprendizagem.
Conforme a psicopedagoga e coordenadora da Equipe de Diagnóstico de Atendimento Clínico (Edac), Raquel Caruso, transtornos como dislexia, disgrafia, distúrbios de atenção e hiperatividade, apesar de comuns - atingem cerca de 10% de uma sala com 40 alunos -, levam tempo para serem diagnosticados. É que outros problemas físicos, como dificuldades de visão e audição, ou psicológicos, como má adaptação a uma escola, também afetam o desempenho dos alunos na escola. Em todos os casos, a primeira recomendação é a mesma: observar. Quanto antes o problema for identificado, mais rápido os filhos serão tratados, evitando mais perdas e atrasos no processo de aprendizagem. “Se identificado o problema na infância, a criança aprende a lidar com as limitações e a trabalhar com as dificuldades”, diz Raquel. Um dos transtornos mais conhecidos é a dislexia - dificuldade de assimilar a linguagem escrita -, o mesmo vivido pela adolescente Clarissa, personagem interpretado pela atriz Bárbara Borges na novela Duas Caras, da Globo. O problema, explica a psicopedagoga, é congênito e não tem relação com a inteligência, já que a pessoa é capaz de absorver informações. “Muitas vezes elas apresentam Q.I. superior ao das outras.” Mesmo assim, é preciso que a criança receba cuidados especiais. Nestes casos, os professores devem saber que esses alunos precisam de mais tempo para copiar textos e fazer as provas. Há instituições que permitem que alguns testes sejam orais. “As escolas estão abrindo espaço para adaptação.” Em casa, os pais devem acompanhar as tarefas de perto. “Antes das provas, reviso tudo em voz alta para o meu filho”, conta Rita Hipólito, mãe de Renato, de 12 anos, diagnosticado com dislexia há dois anos. Mas as dificuldades na escola começaram aos cinco anos. “Ele não queria fazer exercícios de coordenação motora. E o problema ficou mais acentuado na fase de alfabetização”, recorda Rita.

TRATAMENTO ADEQUADO Após passar por uma psicóloga que suspeitou do transtorno, Renato foi encaminhado para uma clínica especializada. Lá, passou por exames feitos por uma equipe multidisciplinar, com profissionais das áreas de fonoaudiologia, psicologia e psicopedagogia. Quando o transtorno é identificado, são criadas estratégias de estimulação adequadas ao cérebro. “A terapia serve para ensinar como lidar com as dificuldades. Mas não é para ser uma muleta para sempre”, afirma a psicopedagoga. Renato já sente os resultados: “Antes era muito difícil. Agora, consigo ler e escrever melhor.” Não por acaso, a matéria que ele menos gosta é Língua Portuguesa. Já a que tem maior facilidade é matemática. Até consegue fazer as contas de cabeça. Na escola, o método de ensino dos professores não muda. Mas Renato recebe uma atenção maior. Além disso, ele tem dez minutos a mais que os colegas para terminar as provas. “Já ajuda. Tento fazer no tempo certo, mas se eu precisar dos dez minutos, eu uso.” Outros transtornos comuns são o déficit de atenção e hiperatividade “Os dois são a mesma patologia”, explica Raquel. A dificuldade de ambos é a concentração. A criança com déficit de atenção se distrai facilmente, enquanto a hiperativa fica agitada. Há ainda a disgrafia (letra feia), problema em que a criança tem dificuldade transformar a informação do plano vertical para o horizontal, como copiar textos da lousa. E também a discalculia: dificuldade com números. Como identificar distúrbios Check-up: Verifique primeiro as condições de saúde da criança. Exames de sangue e de tiróide identificam anemias e distúrbios hormonais que podem provocar desânimo e reduzir a atenção. Crianças que respiram pela boca também podem apresentar distúrbios de aprendizagem por falta de oxigenação no cérebro Visão e audição: Exames oftalmológicos e auditivos devem ser feitos anualmente, de preferência antes do período letivo. Em seis meses, a criança pode apresentar a dificuldade e não sabe identificar sozinha que aquilo não é normal. Há casos de inflamação nos ouvidos que não apresentam dor, a criança apenas sente como se estivesse com um tampão Aspectos emocionais: Segundo a psicopedagoga Raquel Caruso, a pergunta que os pais devem se fazer é: a criança sempre foi assim ou é algo do momento? Às vezes, um fato específico, como a troca de uma babá, a perda de um parente ou separação dos pais também podem afetar na aprendizagem Má adaptação: Há escolas com diferentes métodos de aprendizagem. Quando a escolha não é adequada, a auto-estima da criança cai e ela passa a não querer freqüentar as aulas. Procure conhecer o perfil de aprendizagem ideal para o seu filho e peça orientação aos professores, a escola tem de ser honesta. Se o método for inadequado, o recomendável é matriculá-lo em outra instituição Agenda superlotada: Se a criança cumpre uma série de atividades extra-curriculares, como natação, inglês, balé, futebol, música, ela não tem tempo para brincar e pode apresentar transtorno de aprendizagem funcional. Nesses casos, o recomendável é que se opte por apenas uma atividade. O ideal é que a criança tenha um período para descansar, digerir e absorver o que aprendeu na escola Clínica especializada: Se os problemas citados estão eliminados e a criança permanece com dificuldades, procure uma clínica especializada para que ela passe por exames feitos por uma equipe multidisciplinar

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