DIVERSIDADE METODOLÓGICA NA EDUCAÇÃO DE CRIANÇAS: BREVE REVISÃO HISTÓRICA

BRINCAR E APRENDER
“Brincar e aprender são dois processos diferentes que se fazem em um mesmo espaço, descrito por Winnicott como espaço transicional, espaço da criatividade, espaço do jogar e eu acrescento espaço do aprender”. (Fernández, 2002, 101). Longe de ser apenas uma atividade natural da criança, a brincadeira é uma aprendizagem social. As brincadeiras dos adultos com as crianças pequenas são essenciais nessa aprendizagem, pois a brincadeira permite decidir, pensar, sentir emoções distintas, competir, cooperar, construir, experimentar, descobrir, aceitar limites, surpreender-se, pois, “o brincar é o principal meio de aprendizagem da criança... a criança gradualmente desenvolve conceitos de relacionamentos causais, o poder de discriminar, de fazer julgamentos, de analisar e sintetizar, de imaginar e formular”. (Des, apud Moyles, 2002, 37). Apesar de se saber que a criança não é um adulto que ainda não cresceu, que o importante não é ensinar, mas dar condições para que a aprendizagem aconteça e que hoje já existem pessoas preocupadas com os direitos das crianças, elas continuam desrespeitadas na sua condição de seres humanos em desenvolvimento. Todas as crianças precisam brincar, mas nem todas têm oportunidade. Algumas porque precisam trabalhar, outras porque não têm com o que brincar, outras porque precisam estudar e conseguir notas altas. Existem crianças socialmente prejudicadas, aquelas que não usufruem os benefícios de um lar e uma família organizada e muitas vezes sentem dificuldades em adaptar-se à escola. São infinitas as oportunidades de descobrir e criar que estão presentes nas brincadeiras infantis. Mas, o brincar das crianças é considerado apenas uma recreação sendo que a atividade pedagógica é realizada em um outro ambiente, menosprezando assim as aquisições que essa brincadeira pode oferecer. Opondo-se a este pensamento, “a brincadeira é uma forma de atividade social infantil cuja característica imaginativa e diversa do significado cotidiano da vida fornece uma ocasião educativa única para as crianças” (Wajskop, 2005, 30).Brincar tem características peculiares como o prazer, o desafio, limites, liberdade. Exige movimentos, flexibilidade e tem para a criança um caráter sério que não é feito de qualquer maneira, pois ela se empenha para realizar o seu melhor.Brincando ela aprende a viver e a formar conceitos, avançando dessa forma, etapas importantes para o seu crescimento. Brincando a criança adquire experiências que serão indispensáveis no seu dia-a-dia, pois provoca, exercita, desenvolve o funcionamento do pensamento explorando suas potencialidades.Maluf (2004, 33) pontua que “as crianças comunicam-se através do brincar e por meio dele tornam-se operativas”. A importância da brincadeira está intrinsecamente ligada ao seu valor operatório, pois, implica em assimilação de esquemas.Pela necessidade que a criança tem de brincar é preciso criar sempre oportunidades em casa e na comunidade para que ela possa brincar livremente. Nenhuma criança brinca só para passar o tempo, brincar é sua linguagem secreta.Além de deixar qualquer criança feliz, o brincar desenvolve os músculos, a mente, a sociabilidade, a coordenação motora e auxilia-a na superação de suas dificuldades. “Brincar é muito importante, pois enquanto estimula o desenvolvimento intelectual da criança, também ensina, sem que ela perceba, os hábitos necessários ao seu crescimento” (BETTELHEIM, apud MALUF, 2003, p.19).Existem dois tipos de brincar: o brincar livre e o brincar dirigido. O brincar livre, conceitua-se pelo lúdico informal, geralmente no espaço familiar: de passeios, de comunicação, de informação, de descobertas, de assistir televisão, enfim, brincadeiras que, apesar de serem de iniciativa da criança, sem pretensões educativas, assumem características de aprendizagens consideráveis para ela, que se utilizando de conhecimentos pré-adquiridos, possibilitam a apreensão de novos, para apropriar-se de seu entorno, desenvolvendo sua cultura lúdica.Agindo de forma lúdica, há possibilidade da criança assimilar a cultura do seu grupo social e interpretar os modos de vida adultos de forma participativa e essa cultura lúdica irá constituir uma bagagem cultural para a criança e se incorporar de modo dinâmico a uma cultura mais ampla.É preciso lembrar que a cultura lúdica que evolui com a criança é em parte, determinada por suas capacidades psicológicas, as quais podem permitir ou impossibilitar algumas ações ou representações, pois o pensamento da criança evolui a partir de suas ações, por isso as brincadeiras são importantes para o desenvolvimento do pensamento infantil e “quanto maior for à imaginação das crianças, maiores serão suas chances de ajustamento ao mundo ao seu redor”.(CUNHA, 2001, p.23).No que diz respeito ao brincar dirigido, ele é entendido à luz de algumas teorias sobre a aprendizagem, onde a atividade lúdica é direcionada para fins de aprendizagem e a criança vive experiências em níveis diferentes de complexidade e envolve assim através do brincar, suas capacidades cognitivas, ou seja, o brincar dirigido como um procedimento que pode compor o processo diagnóstico do psicopedagogo. Portanto para dar mais sentido às brincadeiras, deve-se propor atividades que exercitem sua imaginação, criatividade, equilíbrio, agilidade de movimentos e raciocínio. Conseqüentemente, que o brincar livre e o brincar dirigido, desenvolvem-se em uma inter-relação positiva. No brincar livre, a criança utiliza sua cultura lúdica aliada ao que aprendeu no brincar dirigido. Por sua vez, será observado no brincar dirigido as experiências adquiridas pelo brincar livre com outras crianças. Assim sendo, as crianças precisam de tempo, espaço, companhia e material para brincar. Desta maneira a escola pode e deve reunir experiências para que aprendam e assimilem nesse processo de descobertas que é fundamental para o seu desenvolvimento.Na área da educação, a preocupação com o lúdico se manifesta apenas pela qualidade dos brinquedos disponíveis no acervo, sem se levar em conta os significados que esses objetos carregam. Não se trata de intervir psicopedagogicamente em toda a brincadeira, mas de compreender a especificidade e importância da intervenção e prevenção que pode existir na brincadeira, atentando para o fato de que hoje já não se pode mais educar apenas com lápis, papel, mesa e cadeiras,O educador pode, portanto, construir um ambiente que estimule a brincadeira em função dos resultados desejados. Não se tem certeza de que a criança vá agir, com esse material, como desejaríamos, mas aumentamos, assim as chances de que ela o faça; num universo sem certeza, só podemos trabalhar com probabilidades. (Brougère, 2000,105).
A brincadeira com intenção psicopedagógica é aquela organizada de maneira que os participantes sejam ajudados a desenvolver confiança em si mesmo, em suas capacidades e a ser empático com os outros, ou seja, um ser pensante, com possibilidades de expansão no seu desenvolvimento pleno.